segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Sem vocação

Borbulhava um vinho vermelho na cabeça e não tinha culpa, atrás do batom rouge e do soutien carmin passara a noite trepada em saltos pretendendo fazer isso em outra coisa. Exalava seu chanel número 5 - e o cigarro numero 10 - e o trem número 30 que vinha, já ia. Pensou ouvir alguém dizer que ali não consiguiria nada - imaginou em quantas cabeças passava aquele mesmo pensamento ('esqueceram de se previnir desse vírus', pensou) - estava sentada demais para explicar que queria aquele nada. De engravatados desembebedados cheios de pressa e das 12 horas no relógio que marcavam o dia - e não a noite - ela queria mais é continuar naquele despojo. Sentada sem planejar a pose das pernas na estação, sentindo os pés descansarem em terra ao lado dos sapatos, o peso do blush caindo era muito para querer levantar os ombros. No ferver da cabeça começavam e acabavam as idéias como bolhas; notou ter sentido os mesmos olhos do dono de um cabelo despenteado - agora ainda mais - em sua face, mas o olhar então voltava, não mais ia. Uma jornada de trabalho dos outros e ela ali - começou a perceber pela dor nas costas. Levantou simples do banco e foi pra casa.
- Onde você estava?
- Fui fazer um teste vocacional prático.
- Nossa, legal! E descobriu que tem vocação pra quê?
- Peça de museu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário