sábado, 27 de novembro de 2010

No final

No final há sempre aquela certeza falha, uma esperança de apagar as pegadas de um passado de que não gostamos, de um caminho que erramos. Estranho sabermos que, mesmo sabendo que chegaríamos aqui, fomos nós mesmos que colocamos os nós nos sapatos e um pé a frente de outro por todos os dias, tateando no escuro por um casaco e uma calça, uma caso e uma causa, algo que aparentasse bem, pra bem, bem depois, trajarmos, ultrajarmo-nos por pôr as roupas trocadas e sair por aí. Não porque tentar fazer a diferença não faz diferença alguma, mas porque sempre uma música bonita toca no final de um filme trágico, passamos a andar no final ao contrário, desvirando as roupas e etiquetas, procurando as flores e borboletas do fim do caminho no qual não conseguimos chegar (ainda).

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eu te amo

- Eu te amo. Você também, amor?
- Também.
- Quem?
- Como, quem?
- Não, não tô falado do ato físico do amor.
- Eu também não!
- Tá, mas e então?
- E então o quê?
- Você ama a mim?
- Sim, sim-la-bim.
- Ah, essa foi só pra rimar.
- Claro que não.
- Você me ama, então?
- Não.
-.
- Calma, essa foi só pra rimar! Ai!, você deixa louc..
- Louca de amor? Ei, aonde você vai?
- Eu te aamo!
- De longe não vale.
- Mas é da sala!
- O que me garante não ser pro vizinho?
- O que te garante não ser a sala dele?
- O quê??!!
- Amor, eu amo, amo você.
-Ma..
-Não, não foi por rimar.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ainda e sempre

Tudo sempre me foi assim, o conhecimento pro filósofo, a harmonia pro maestro, o shopping pro burguês, o erre pro francês, você pra mim. Mesmo se eu parasse por aqui, ou se o mundo metesse os pés pelas mãos, andaríamos nós de mãos dadas com um pressa de ser feliz tão rápida quanto a da luz das vinte horas num dia de verão. Porque certas coisas são tão certas que são sempre as mesmas; o sol se vai igual àquela tarde em que ficávamos só nós dois e selávamos cartas com saliva pra enviar depois. E isso vê-se da minha, da sua, de qualquer uma, de alguma janela que se veja o mundo. Um bilhão, metade da população, cem anos atrás e mil cartas enviadas por correios, carteiros ou camelos; as mensagens de amor não mudam assim como o sol continua a ser estrela e o vento a soprar na velocidade da luz a nossa felicidade. (Você ainda é tudo pra mim, de verdade.)