domingo, 27 de setembro de 2009

Pare de me instigar!

Ao entrar no elevador, encontrei-me com alguém...

- Isso, olha fundo nestes olhos, reflexo disperso, estão retos?
- Sombreiam ao menos.
- E essas olheiras? Que tinta de azul petroleiro é essa que pintaram aí?
- Ah, bem, não sei se aquilo foi sonho ou falta de dormir, o fato é que zanzei perambulando procurando uma causa perdida.
- Esqueça-a, roupas rasgam, livros também, então encosta no travesseiro, que se anoiteceu é pra não ver mesmo, ou sol seria. Que cara plácida, lavada! Bem faria-lhe um batom!
- Vermelho? Será que ele me viu estampada em mim mesma assim pela manhã?
- Ah, tive impressão de olhar canteiro vindo dele, mal sei. Melhor tentar o batom. Já encheu os lagos de lágrimas de novo? Bem fosse seca de deserto esse olhos miúdos. Pelo menos cílios longos pra piscadas. Rugas grandes de moldura, quanta sobra...
- Pare com isso, sou só eu, desde menina.
- Não sei, difere tanto, pele manchada, tampa e cortina. Cadê aquela alegria boba de estar?
- Ah, tá por aí, hora ou outra encontro-a. Melhor sorrir mesmo.
- Nossa que sorriso pequeno, escancara!
- Assim?
- Sim, mas é o batom. Segura esses cabelos na cabeça, se não, caem-lhe ... Que rosado o rosto!
- Bem fariam-me umas rosas ganhadas...
- Ah, procura nos livros, vai estudar mais que acha e ganha, chegamos.

Desci. E da próxima vez só pego elevadores sem espelho. Sempre encontro aquela mesma pessoa do reflexo, dele me encarando e instigando.

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