Nunca tinha sido titular no time dos otimistas. Não era capaz de usar aquela tática de Jogo do Contente que mais parecia ter sido tirada do livro Pollyanna. Só para exemplificar, adivinha o que o treinador falou quando o time foi para a segunda divisão? "Vamos lá galera, temos que agradecer por não estarmos na terceira!!" . Francamente.
Apesar disso, eu tava sempre no banco de reserva pra dar uma força caso um otimista precisasse faltar. Num certo dia de jogo, o time dos pessimistas veio jogar com a gente. Zero a zero. Empatamos. "Bola pra frente moçada! Podíamos ter perdido!", veio proclamando o técnico. Foi então que, cansada de me calar ante aos murmúrios de satisfação dos meus colegas, resolvi me manisfestar. "Bola pra frente? Isso foi a única coisa que não fizemos! No jogo todo a bola abraçou confortável a tristeza do gramado e deixamos por isso mesmo, achando que era bastante! Negativo! (Ao falar esse palavrão fui olhada discriminadamente, mas prossegui) Temos que aceitar que a vitória virá quando a bola puder abraçar com alegria e euforia o fundo da rede, quantas vezes a mais do time adversário forem precisas!!
Naquele dia, o treinador veio falar comigo. Ele achou que eu deveria entrar pro time como titular, finalmente.
Ocupei a posição de centro-avante.
Num certo dia de chuva, tínhamos jogo. Depois do discurso confiante do técnico, reuni todo mundo e alertei: gente, tenham cuidado para não perder a visão da bola. Não fiquem achando que ela está com o nosso time enquanto ela está com time adversário! Diante dos olhares pasmos, arremessei mais umas palavras de confiança e então eles pareceram entender.
O jogo foi difícil. Pouco restou da minha voz que desperdiçei gritando com meus colegas para ocuparem a posição certa. Depois da segunda metade do segundo tempo, o time dos realistas, nossos adversários, desistiram. Nao que tivessem tirado suas chuteiras e arremessado longe, mas pararam de perseguir bravamente a bola porque a probabilidade de ganhar era mínima. Mas eu e meu time, continuamos. E não, eu não tinha me tornado uma otimista. Não espalhava pelo campo sorrisos para a arquibancada. A única coisa que me fazia pertencer ao meu time era a vontade de vencer. Era a vitória vindo com as comemorações, os merecimentos, os abraços . Faltando um minuto pro fim, não estávamos felizes devido a um provável empate. Mas porque ainda tínhamos 60 segundos para vencer.
E foi naquele dia que finalmente os otimistas puderam saborear o gosto da real felicidade, crua e nua, e não daquela que vinha pra disfarçar o sabor amargo da tristeza. Vencêramos, felicidade de verdade.
Às vezes recebo algumas ofertas de altos salários para jogar oficialmente no time dos pessimistas, as quais acabo recusando. No fim de tudo, o que me vale é a taça de campeã.
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